Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2004

Ricardo Reis

Breve o dia

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.
Não tarda nada sermos.
Isto, pensado, me de a mente absorve
Todos mais pensamentos.
O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,
Que, inda que mágoa, é vida.


Ricardo Reis
publicado por CONSTALVES às 00:12
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Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2004

W. B. Yeats

A Canção do Delirante Aengus
(1899)
Eu fui para uma floresta de nogueiras, Porque minha mente estava inquieta,
Eu colhi e limpei algumas nozes,
E apanhei uma cereja, curvando o seu fino ramo;
E, quando as claras mariposas estavam voando,
Parecendo pequenas estrelas, flutuando erráticas,
Eu lancei framboesas, como gotas, em um riacho
E capturei uma pequena truta prateada.

Quando eu a coloquei no chão
E fui soprar para reativar as chamas,
Alguma coisa moveu-se e eu pude ouvir,
E, alguém me chamou pelo meu nome:
Apareceu-me uma jovem, brilhando suavemente
Com flores de maçãs nos cabelos
Ela me chamou pelo meu nome e correu
E desapareceu no ar, como um brilho mais forte.

Talvez eu esteja cansado de vagar em meus caminhos
Por tantas terras cheias de cavernas e colinas,
Eu vou encontrar o lugar para onde ela se foi,
E beijar seus lábios e segurar suas mãos;
Caminharemos entre coloridas folhagens,
E ficaremos juntos até o tempo do fim do tempo, colhendo
As prateadas maçãs da lua,
As douradas maçãs do sol.




W. B. Yeats
publicado por CONSTALVES às 23:44
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e.e.cummings

eu
estou
te pedindo
querida é pra
que mais poderia um
não mas não é o que
claro mas você não parece
entender que eu não posso ser
mais claro a guerra não é o que
imaginamos mas por favor pelo amor de Oh
que diabo sim é verdade que fui
eu mas esse eu não sou eu
você não vê que agora não nem
sequer cristo mas você
precisa compreender
como porque
eu estou
morto




e.e.cummings
(tradução: Augusto de Campos
publicado por CONSTALVES às 23:30
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Cecília Meireles

MORRO DO QUE HÁ NO MUNDO


Morro do que há no mundo:
do que vi, do que ouvi.
Morro do que vivi.
Morro comigo, apenas:
com lembranças amadas,
porém desesperadas.
Morro cheia de assombro
por não sentir em mim
nem princípio nem fim.
Morro: e a circunferência
fica, em redor, fechada.
Dentro sou tudo e nada.



Cecília Meireles
publicado por CONSTALVES às 23:22
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Ezra Pound

SAUDAÇÃO

Oh geração dos afetados consumados
e consumadamente deslocados,
Tenho visto pescadores em piqueniques ao sol,
Tenho-os visto, com suas famílias mal-amanhadas,
Tenho visto seus sorrisos transbordantes de dentes
e escutado seus risos desengraçados.
E eu sou mais feliz que vós,
E eles eram mais felizes do que eu;
E os peixes nadam no lago
e não possuem nem o que vestir.

Ezra Pound
(tradução de Mário Faustino)
publicado por CONSTALVES às 15:51
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Sylvia Plath

Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância...



Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.


Leoa do Senhor como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco


Afunda e passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.


Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...


Negro, doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo


Me arrasta pelo ar...
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.


E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança


Escorre pela parede.
E eu
Sou a flecha,


O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho


Vermelho, caldeirão da manhã.


Sylvia Plath
(tradução de Ana Cândida Perez e Ana Critina César)
publicado por CONSTALVES às 15:36
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Gabriele D´Annunzio

Beberam fundo nas alpestres fontes
Para que de água do nativo ninho
O gosto fique a confortar o exílio...



Setembro. Vamos. Tempo de migrar.
Nos Abruzos, agora, os meus pastores
Deixam cabanas, marcham para o mar.
Descem para o Adriático bravio,
Verde como as pastagens de altos montes.


Beberam fundo nas alpestres fontes
Para que de água do nativo ninho
O gosto fique a confortar o exílio
E longo iluda a sede do caminho.
Cajados novos têm de alvelaneira.


Ao plaino vão descendo de maneira
Que são como um rio silencioso
Passando nos sinais de antigos passos.
Ó voz daquele que primeiro ansioso
Distingue o trémulo da beira-mar!


Já pela praia o rebanho a andar
Cruza dos ares a quente imóvel teia,
E tanto aloura o sol a viva lã
Que quase não se aparta ela da areia.
E as ondas e o tropel... doces rumores.


Ah porque não estou eu com os meus pastores?



Gabriele D´Annunzio
Tradução de Jorge de Sena
publicado por CONSTALVES às 15:30
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Maiakovski

E Então Que Quereis?...



Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades

Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.



Maiakovski
(1927)



Tradução de E. Carrera Guerra

Do Livro "Maiakóvski-Antologia Poética"/Editora Max Limonad, 1987.
publicado por CONSTALVES às 11:27
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Walt Whitman

Walt Whitman

...as delícias do céu estão em mim...


Eu sou o poeta do corpo

Eu sou o poeta do corpo
e sou o poeta da Alma,
as delícias do céu
estão em mim
e os horrores do inferno
estão em mim
- o primeiro eu enxerto
e amplio ao meu redor
o segundo eu traduzo
em nova língua




Walt Whitman
publicado por CONSTALVES às 10:58
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José Fanha

Enquanto vires o verbo a arder
despe o tempo da mágoa e do verdete.

Enquanto o vires a arder,
ó meu amor,
faz do verbo o teu cavalo.

José Fanha

coment: poema de resistência
publicado por CONSTALVES às 10:51
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